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难民1945[Riva]

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发表于 2017-4-13 12:36:56 | 只看该作者 回帖奖励 |倒序浏览 |阅读模式
9月中旬在图书馆阅览室浏览报纸之时,在葡国报纸Expresso上看到了一篇令我感到温馨的文章,于是一时兴起将之翻译成中文。将其分享给大家,翻译不当之处欢迎指正。

                                                       难民1945
     他叫赫伯特。1945年的时候,他还是一个小男孩,在奥地利维也纳的大街上奔跑着追逐大耗子。母亲给他捕来的这些耗子插上随处找来的细棒,在废墟和房屋残骸中烧烤。吃饭的时候,赫伯特得跟他的妹妹分享每一份耗子肉。在那可怕的光景,几乎没有别的可吃。盟军炸弹留下的弹坑随处可见,如同许多别的城市一样,维也纳这个本有着月光般美丽风景的地方,沦为了一粒灰色的尘埃。正如泽巴尔德多年后所说,盟军的轰炸改变了德国人和奥地利人的生存面貌。露宿街头,捕食耗子,啃食皮鞋,这些都逐渐变得稀松平常,平常得如同时不时拂过的清风。那样的遭遇谈不上好也谈不上坏,只是存在,只是那么发生了,犹如常常发生的暴风雨和地震。为了改变这种不符道义的景象,欧洲明爱组织发起了一场运动:必须把这些孩子送往欧洲相对平静的地方以寻求避难之所。于是,就这样,赫伯特这个追逐老鼠的孩子,来到了Sepins(Coimbra和Aveiro之间),来到了我丈人的祖父家。
    如今,赫伯特已经习惯了末日之后的新生活,但他对于过去,对于Bairrada的乡村生活,依然保有留恋。在收养他的家中,他生活得形同一个王子,品尝烤乳猪,由仆人们给他打理衣服,时不时的他还捉弄家中的男孩儿女孩儿们,有一次还把一副野猫皮囊扔到我岳母的头上。作为一个男孩子,他与我丈人的祖父菲利普越来越亲近,经常和“菲利普叔叔”骑自行车在田间和房舍间穿梭。岁月荏苒,他长成了一个正常的小伙子,但是,这个维也纳青年偶尔还是会显露出战争带给他的伤痕。收养他的家庭也在Figueira da Foz度过了好些个春秋,那会儿那里有个飞机场,每当听到飞机轰鸣声,赫伯特都会趴倒在地,钻进床下;逢年过节,乡村的鞭炮声也会在曾经的“耗子猎人”身上起到同样的效果。
    维也纳重建之后,青年赫伯特回到了故乡,但是每个夏天他都会回葡萄牙看望收养过他的家庭。菲利普叔叔替他负担飞机费用,并请他住在家中,因为这个葡国家庭在Barra有一栋用来度假的房子。往葡萄牙的频繁旅途一直到他成婚以后方才中断。他娶了一个名叫印歌的匈牙利女子,她曾经因为匈牙利共产党的迫害而避难。只有难民才理解难民,对吧?他们没有儿女,在他妻子过世之后,他将亡妻留下的最为精美的衣服和首饰都送给了那个葡萄牙家庭中的女人们。我的妻子曾在我们小女儿接受洗礼的那几天里穿了一件薄衫,正是出于那位神秘的匈牙利手工艺术家之手。现如今,赫伯特不再频繁地造访葡萄牙,不再每年向沿海的这户人家行感激之礼,但是他从未间断地向家中老一辈以及菲利普叔叔的孩子们寄送书信,写的一手漂亮的葡语。
    这个故事发生在比现今穷得多的葡萄牙。这样的善行有必要延续下去。如今的“菲利普叔叔们”都在哪儿呢?

原文链接:http://expresso.sapo.pt/opiniao/ ... -11-Refugiados-1945

由于Expresso网站链接不给非付费用户提供完整的文章,所以经过原作者同意之后,放上从印刷版报纸中获取的原文供大家查看。

Chama-se Herbert. Em1945, era um menino de Viena de ?ustria que cirandava pelas ruas a ca?ar ratazanas, que eram depois cozinhadas pela m?e num espeto improvisado entre ruínas e destro?os; no prato, Herbert tinha de partilhar cada ratazana com a irm?. Naquela paisagem apocalíptica pouco mais havia para comer. Como tantas outras cidades, Viena era uma paisagem lunar, reduzida a um pó cinzento e repleta de crateras provocadas pelas bombas aliadas. Como diria Sebald muito mais tarde, Os bombardeamentos aliados transformaram o sofrimento de alem?es e austríacos numa extens?o da natureza. Dormir ao relento, ca?ar ratos e roer solas passou a ser natural, t?o natural como o vento que passava; aquele sofrimento n?o era bom nem mau, apenas existia, apenas acontecia, como uma tempestade ou terramoto. Contra esta vis?o amoral e naturalista, a Caritas lan?ou uma campanha: era necessário dar guarida a estes miúdos em zonas mais plácidas da Europa. E foi assim que Herbert, o menino dos ratos, chegou a Sepins(entre Coimbra e Aveiro) e à casa dos avós da minha sogra.

Habituado ao futuro pós-apocalíptico, Herbert gostou do passado campestre que ainda marcava a vida desta aldeia bairradina. Comia leit?o como um príncipe, as criadas de dentro tratavam-lhe da roupa e pregava partidas aos meninos e meninas da casa. Entre outras cachopices, atirava peles de gato bravo para cima da minha sogra. E, tendo em conta que era menino, até atingiu um grau de proximidade com o av? Filipe que estava interdito às meninas. Por exemplo, andava de bicicleta com o "uncle Philippe" pelos campos e propriedades da família. Com o tempo passou a ser um rapaz normal, mas, por vezes, este vienense da Bairrada ainda revelava os traumas da guerra. A família passava largas temporadas na Figueira da Foz, que na época tinha um aeródromo; quando ouvia os avi?es, Herbert atirava-se para o ch?o ou corria para debaixo das camas; nas festas da aldeia os foguetes causavam o mesmo ato reflexo no antigo ca?ador de roedores.

Com Viena já reconstruída, o jovem voltou à pátria, mas regressava todos os ver?es à família adotiva. O "uncle Philippe" pagava a passagem de avi?o e ele ficava hospedado na casa de férias da família na Barra. estas surtidas de teenager ao paraíso português terminaram quando casou com Inga, uma húngara que havia fugido da Hungria comunista. Só uma refugiado pode compreender um refugiado, n?o é verdade? N?o tiveram filhos. Quando Inga faleceu, Herbert ofereceu às mulheres da sua família portuguesa as roupas e joias mais requintadas da ex-mulher. N?o por acaso, durante os dias do batizado da nossa filha mais nova, a minha mulher usou uma blusa herdada dessa misteriosa aristocrata húngara. Claro que hoje em dia Herbert já n?o vem a Portugal com a mesmo frequência, já n?o faz prociss?es de agradecimento à Beira Litoral todos os anos, mas continua a escrever cartas num português decente aos membros mais velhos da família, aos filhos que restam do "uncle Philippe".
      
Esta história de compaix?o teve como palco um Portugal muitíssimo mais pobre do que o atual. Temos o dever de a repetir. Onde est?o os "uncle Philippe" de hoje?




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